quinta-feira, 1 de julho de 2010

Reinventamos a Amizade


Foi nesse final de dia, depois de há muitos anos andar perdida na floresta de sombras agigantadas pela obscuridade.
Fugira, já nem sei quando, dos labirintos de gentes apressadas e magoadas, tristes e insatisfeitas.
Percorria-me em cada trilho de solidão partilhada com o cheiro de pinheiros e giestas, com o piar da coruja e o voar raso dos morcegos que acordavam com o luar.
Caminhei sempre, sem procurar e ouvia-te a voz sussurrada, grave, presa à terra que te detém.
Conhecia-te dos meus mais profundos silêncios, eras tu quem me respondia quando questionava a vida.
Porque tardas? Porque não te vejo?!
Respondias-me que não era a ti que eu procurava e só quando a mim própria me encontrasse, ai sim, poderia saber quem tu és.

- Cada passo faz parte do caminho, por mais dispensável que te pareça. Cada emoção faz parte do conhecimento que terás de reunir!

Por vezes não te entendia, mas nesse final de dia sentia-me menos perdida. Aceitara uma calma aparentemente povoada de nada, mas cheia de tudo. Sentei-me no tronco morto e ressequido, de uma árvore que eu não sabia qual era. O sussurro aproximava-se na exacta medida em que me acelerava a pulsação, num sentimento imenso, que foge a quaisquer padrões linguisticos ou metafóricos, como se de um Destino se tratasse!

... Um Escorpião negro, reluzente...

Por um breve segundo temi, mas o sibilar foi doce e familiar, disseste-me que o maior perigo é o medo que nos impede de arriscar. O que podia eu temer ou perder?
Deixei-o subir para a minha mão e enlear-se nos meus anéis, esse Escorpião que eras tu... Mas o ferrão, o veneno mortal?!...
Enquanto num turbilhão de imagens me passava a vida, não me deste o teu veneno, era doce o que tu destilavas, e o teu sibilar continuou:
- Sou eu quem sempre te acompanhou, foi a tua confiança em mim que transformou em mel o mais letal dos venenos.

Guardei-te em meu peito até hoje, e para toda a eternidade se venceu o mais baixo e mortal dos instintos. Reinventámos para sempre a confiança na Amizade!

Eterea

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